sábado, 18 de outubro de 2025

Diálogo Freud e Marx na Crítica à Reprodução Social Capitalista

 O presente estudo sobre: Diálogo Freud e Marx na Crítica à Reprodução Social Capitalista, tem como objetivo integrar Marx e Freud, a metodologia empregada baseia-se na pesquisa bibliográfica interpretação e análise crítica do materialismo histórico de Karl Marx e a psicanálise de Sigmund Freud. Conclusão: Articula-se Marx e Freud, mostrando como o capitalismo molda o inconsciente coletivo e a subjetividade. Sua análise evidencia que a emancipação humana depende da transformação social e psíquica. Nildo Viana argumenta que a libertação plena do indivíduo depende da mudança das condições sociais de exploração. Ao mesmo tempo, é necessária a transformação do psiquismo, superando a repressão e alienação impostas pela sociedade.


Palavras-chave: Coletivo; Crítica ao Capitalismo; Freud; Inconsciente; Karl Marx; Sigmund 


Introdução

     A relação entre marxismo e psicanálise constitui um campo fértil e complexo de debates desde meados do século XX, envolvendo nomes como Wilhelm Reich, Erich Fromm e Herbert Marcuse, notadamente ligados à Escola de Frankfurt. O desafio central é integrar a crítica da economia política, focada na estrutura e nas relações de produção (Marx), com a investigação da subjetividade e do inconsciente (Freud), sem cair em reducionismos ou ecletismos superficiais.

   Nesse panorama, a obra do sociólogo Nildo Viana emerge como uma tentativa de radicalização do freudismo-marxismo (VIANA, 2008), buscando um diálogo que mantenha a coerência metodológica do materialismo histórico-dialético. Viana (2008) propõe analisar o universo psíquico não como uma esfera isolada e naturalizada, mas como um elemento fundamental para a reprodução do capital, atravessado pelas contradições de classe e pela sociabilidade burguesa.

     O objetivo deste estudo é apresentar os principais pontos da contribuição de Nildo Viana nesse diálogo, destacando sua crítica às "ficções freudianas" (como o instinto de morte e o Complexo de Édipo enquanto categorias universais e a históricas) e sua reelaboração de conceitos psicanalíticos sob a ótica do materialismo histórico, com destaque para a noção de inconsciente coletivo (VIANA, 2002). A metodologia empregada baseia-se na pesquisa bibliográfica e na análise crítica dos principais textos do autor sobre o tema e Karl Marx e Sigmund Freud.

     A sequência dos conceitos iniciamos com: O Marxismo Autêntico e a Psicanálise: Rejeitando os Pseudomarxismos: Freud analisa a civilização como um sistema que reprime instintos humanos, principalmente sexuais e agressivos, gerando mal-estar e sofrimento psicológico. 

       O superego e a internalização de normas sociais criam culpa e autocensura, enquanto a cultura regula comportamentos e mediatiza a convivência social. A tensão entre liberdade individual e segurança coletiva é constante, e o progresso civilizatório sempre traz limitações à satisfação dos desejos. 

    Amor, moral e religião funcionam como instrumentos de controle e canalização de impulsos. Assim, a subjetividade humana é inseparável das condições históricas e sociais em que se insere.

      Em seguida a Psicanálise de Sigmund Freud: Sigmund Freud analisa a civilização como um sistema que reprime instintos naturais, especialmente sexuais e agressivos, gerando mal-estar e sofrimento psicológico. 

     O superego e a internalização de normas sociais criam culpa e autocensura, enquanto a cultura regula desejos e comportamentos em prol da ordem coletiva. A tensão entre liberdade individual e segurança social é constante, assim como a transformação da agressividade e do amor em formas socialmente aceitáveis. 

     O progresso civilizatório traz benefícios materiais, mas sempre acompanhado de frustração psíquica. Freud evidencia que a subjetividade humana é inseparável das condições históricas e sociais.

      E por fim a terceira parte Karl Marx e as Contradições do Capitalismo: Karl Marx, segundo Nildo Viana, analisa o capitalismo como um sistema histórico marcado por desigualdade, exploração e alienação, em que o trabalho criativo é transformado em mercadoria. A mais-valia evidencia a exploração econômica, enquanto a luta de classes impulsiona a transformação social. 

     A ideologia dominante máscara a opressão, e a consciência crítica é essencial para a emancipação humana. A integração com a psicanálise mostra que a alienação atinge também a subjetividade, os desejos e comportamento. A superação do capitalismo exige ação coletiva, educação e reflexão histórica.



1 O Marxismo Autêntico e a Psicanálise: Rejeitando os Pseudomarxismos

      Viana (2008) parte de uma leitura rigorosa de Marx, focada na categoria de totalidade, na centralidade da produção e na luta de classes como motor da história. Sua crítica visa as tentativas de conciliação que desviam tanto do materialismo histórico quanto da própria psicanálise em seus aspectos mais radicais. 

     Para ele, as concepções pseudomarxistas frequentemente incorreram em um mecanicismo que subestimava a importância da subjetividade e do universo psíquico na reprodução das relações sociais.

     Em Universo psíquico e reprodução do capital: ensaios freudistas-marxistas, Nildo Viana propõe uma leitura crítica que integra Marx e Freud para compreender como o capitalismo molda tanto a estrutura social quanto a subjetividade humana. 

     A obra analisa a relação entre inconsciente, ideologia e reprodução social, destacando o papel do psiquismo na manutenção do sistema capitalista. Trata-se de uma contribuição original à teoria crítica e à sociologia contemporânea.


Articulação entre psicanálise e marxismo

     A sociedade capitalista estrutura-se sobre uma lógica competitiva que ultrapassa o campo econômico e alcança as dimensões simbólicas e subjetivas da vida social. A busca incessante por prestígio, reconhecimento e ascensão revela as hierarquias que moldam as relações humanas. Nesse contexto, o status torna-se um instrumento de distinção e de reprodução das desigualdades.

A competição para ficar no cume da pirâmide social revelada pela busca de status, luta por ascensão social etc. Esta competição social está presente no conjunto das relações sociais capitalistas (VIANA, 2008, p.23).

    A competição social é expressão da própria dinâmica do capitalismo, que transforma indivíduos em rivais na corrida pelo topo da pirâmide. A luta por status, longe de ser apenas pessoal, é parte de um sistema que naturaliza a desigualdade. Romper com essa lógica exige repensar os valores que sustentam a ordem social vigente.


Inconsciente e ideologia

      A partir do diálogo entre Marx e Freud, Viana propõe compreender o ser humano como resultado da interação entre dimensões psíquicas e sociais. Essa abordagem revela que a subjetividade é moldada tanto por impulsos inconscientes quanto pelas estruturas históricas do capitalismo.

O ser humano, assim, é um ser determinado, movido pelo conflito entre duas forças dominantes em seu aparelho psíquico, ou seja, pelas forças inconscientes e pelas forças sociais. (VIANA, 2008, p.47).

    Para Viana, a integração entre Freud e Marx permite desvelar como o conflito interior reflete as contradições sociais. Assim, a emancipação humana exige transformar não apenas a economia, mas também o próprio inconsciente socialmente condicionado.


Reprodução do capital e subjetividade

      Ao relacionar Marx e Freud, Viana evidencia que o trabalho e a cooperação não são apenas categorias econômicas, mas também expressões do inconsciente humano. O vínculo social, portanto, é simultaneamente uma necessidade material e psíquica.

(...) os seres humanos não realizam o trabalho individualmente e sim coletivamente, por meio da cooperação. Essa cooperação, está associação com outros seres humanos, torna-se também uma necessidade humana - não apenas do ponto de vista da sobrevivência, mas também do ponto de vista psíquico. (VIANA, 2008, p. 62).

     Sob essa perspectiva, a alienação do trabalho capitalista rompe tanto a solidariedade coletiva quanto o equilíbrio psíquico do sujeito. Assim, a libertação humana implica restaurar a integração entre o social e o inconsciente.


Alienação e desejo

     A citação de Viana revela a convergência entre Freud e Marx ao mostrar que as emoções humanas emergem das relações sociais. O sujeito só se reconhece e se constitui efetivamente na presença do outro e dentro de um contexto histórico.

(...) do ciúme, do medo, da inveja, do amor fraterno, do remorso, pois estes só podem existir após o reconhecimento do outro, ou seja, num contexto social. (VIANA, 2008, p. 89).

      Assim, os sentimentos não são apenas expressões individuais, mas produtos das condições sociais e inconscientes. Para Marx e Freud, compreender o homem é compreender, ao mesmo tempo, sua estrutura psíquica e o mundo social que o forma.


Emancipação e crítica da razão instrumental

     A reflexão de Viana articula as teorias de Freud e Marx ao apontar que a verdadeira libertação do indivíduo exige tanto uma transformação social quanto psíquica. O sujeito é moldado por estruturas externas e internas que o condicionam à dominação. Sob a ótica marxista, a emancipação implica superar as condições materiais de exploração; sob a ótica freudiana, exige libertar-se das repressões inconscientes impostas pela cultura. Assim, para Viana, a liberdade plena só ocorre quando o indivíduo rompe com as amarras sociais e psíquicas que sustentam o capitalismo e sua ideologia.

      Por outro lado, Viana (2008) critica o biologismo e o pansexualismo presentes em Freud que resultam na naturalização de fenômenos sociais e históricos. Ao transformar a repressão em um dado universal da civilização (o mal-estar na cultura), e não um produto das relações de classe e da sociabilidade capitalista, Freud (1975) acaba por produzir "ficções freudianas" que ocultam a determinação histórica do psiquismo.


Inconsciente Coletivo e Reprodução do Capital

A principal contribuição de Viana para o diálogo freudano-marxista reside na reelaboração do conceito de inconsciente. Ele propõe a categoria de inconsciente coletivo como o conjunto das "necessidades-potencialidades humanas reprimidas numa coletividade" (VIANA, 2002). Essa repressão não é vista como um imperativo biológico ou uma necessidade da "civilização" em geral, mas como um resultado direto da organização social capitalista, que exige a adaptação da subjetividade aos imperativos da produção e da acumulação.

A repressão, nessa perspectiva, é um mecanismo social que busca adequar os indivíduos ao "modo de pensar burguês" e à reprodução ideológica da sociedade. O inconsciente, então, não é apenas um depósito de pulsões e traumas individuais, mas um reservatório de aspirações e potências humanas – como o desejo de liberdade, a criatividade e a capacidade de amar – que são sistematicamente esmagadas pela sociabilidade capitalista e pelo processo de coisificação (VIANA, 2008).

Ao criticar a "abjuração dos sentimentos" (VIANA, 2008) em Freud, Viana resgata a dimensão do desejo e dos sentimentos como manifestações de necessidades humanas que se opõem à lógica utilitarista e instrumental do capital. A neurose e as patologias psíquicas contemporâneas são lidas, em última instância, como expressões do conflito entre as potencialidades humanas e as exigências da reprodução social capitalista.


A Resistência e o Caráter Teleológico da Consciência

A crítica de Viana (2008) não se limita à dimensão patológica da sociedade, mas aponta para a resistência. As fantasias, os sonhos e as utopias são compreendidos como manifestações que "resistem à repressão" e "voltam ao consciente", constituindo-se em elementos de negação prático-crítica à sociabilidade restritiva.

Ao enfatizar o caráter social e histórico da constituição da consciência, Viana (2008) reintroduz a possibilidade de superação. A consciência, em sua dimensão teleológica (voltada para a transformação), pode contribuir para a superação das condições dadas, impulsionada pelas necessidades-potencialidades que o inconsciente coletivo expressa.

      Nildo Viana é sociólogo e filósofo brasileiro, reconhecido por suas análises que articulam psicanálise e teoria social marxista. Em Inconsciente coletivo e materialismo histórico (2002), o autor propõe uma reflexão inovadora sobre como a subjetividade humana se estrutura em relação às condições sociais e históricas. 

     A obra investiga a dimensão psíquica da vida social, mostrando que o inconsciente coletivo é profundamente influenciado pelas relações de produção e pela ideologia dominante. Viana contribui para a compreensão de como o psiquismo e a sociedade se moldam mutuamente, oferecendo uma leitura crítica das estruturas sociais. Assim, o livro torna-se referência fundamental para estudos freudista-marxistas e para a teoria crítica contemporânea.


Inconsciente coletivo e sociedade

     Viana (2002) destaca que o inconsciente coletivo não se reduz à soma das experiências individuais, mas é moldado historicamente pelas relações sociais. Essa perspectiva evidencia a interdependência entre subjetividade e estrutura social.

“O inconsciente coletivo não é apenas um acúmulo de experiências individuais, mas um produto histórico das relações sociais” (VIANA, 2002).

     Compreender o inconsciente coletivo exige analisar os contextos históricos e sociais que o constituem. O psiquismo humano reflete e reproduz, ao mesmo tempo, as dinâmicas e contradições da sociedade.


Relação entre psique e materialismo histórico

    Viana (2002) enfatiza que a compreensão da psique humana não pode se separar das condições materiais e sociais em que o indivíduo está inserido. A vida social e econômica molda profundamente o funcionamento do inconsciente.

“A psique humana deve ser compreendida à luz das estruturas materiais que condicionam a vida social” (VIANA, 2002).

    Portanto, a análise do psiquismo exige considerar as estruturas materiais que influenciam pensamentos, desejos e comportamentos. A subjetividade humana reflete as condições históricas e sociais de sua existência.


Ideologia e reprodução social

      Para Viana (2002) ressalta que o inconsciente coletivo não é neutro, sendo marcado pelas ideologias dominantes que moldam valores e comportamentos. Dessa forma, a psique individual e coletiva contribui para a manutenção da ordem social vigente.

“As ideologias dominantes se inscrevem no inconsciente coletivo, perpetuando a ordem social existente” (VIANA, 2002).

      A internalização das ideologias perpetua as estruturas de poder e desigualdade. Compreender essa dinâmica é essencial para analisar como a sociedade reproduz suas próprias hierarquias.


Conflito e transformação social

   Viana (2002) aponta que o inconsciente coletivo não é homogêneo, pois carrega contradições que refletem tensões sociais e históricas. Essas contradições oferecem potenciais caminhos para a transformação social.

“O inconsciente coletivo também contém os germes de contradição, que podem impulsionar a mudança histórica” (VIANA, 2002).

    Portanto, mesmo moldado pelas estruturas existentes, o inconsciente coletivo pode ser um motor de mudança histórica. Reconhecer esses elementos contraditórios é fundamental para compreender a dinâmica da transformação social.


Emancipação humana

    A emancipação humana depende do reconhecimento das forças sociais que condicionam a subjetividade individual. A consciência crítica é, portanto, um passo fundamental para a liberdade.

“A emancipação só é possível quando o sujeito toma consciência das determinações sociais que moldam sua subjetividade” (VIANA, 2002).

    Romper com as determinações sociais internalizadas permite ao sujeito agir de forma autônoma e transformar tanto sua vida quanto a sociedade. A libertação exige reflexão sobre as estruturas que moldam pensamentos e comportamentos.



2 Psicanálise de Sigmund Freud

    Sigmund Freud (1856–1939) foi médico neurologista e fundador da psicanálise, desenvolvendo teorias revolucionárias sobre o inconsciente, os mecanismos de defesa e a formação da subjetividade humana. Ao longo de sua obra, Freud buscou compreender as tensões entre desejos individuais e normas sociais. 

      Em O mal-estar na civilização (1975), incluído na Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, v. XXI, o autor analisa como a civilização impõe restrições aos instintos humanos, gerando conflitos entre o desejo de satisfação pessoal e a necessidade de conformidade social. A obra discute a origem da angústia, da culpa e do sofrimento psicológico, estabelecendo conexões entre a psicologia individual e os condicionamentos culturais e históricos.


Conflito entre instintos e civilização

     Freud argumenta que o ser humano possui instintos naturais, sobretudo sexuais e agressivos, que são reprimidos pela civilização. Essa repressão é necessária para que haja convivência social, mas gera tensão e sofrimento psicológico. O indivíduo, portanto, vive um constante conflito entre o desejo de satisfação pessoal e a necessidade de adaptação às normas coletivas.


Função da civilização

     A civilização surge como um mecanismo para controlar impulsos individuais e garantir segurança e ordem social. Ao organizar a vida coletiva, a cultura impõe limites, regras e proibições que moldam o comportamento humano. No entanto, esse controle tem um preço: a limitação da liberdade e o surgimento do mal-estar.


Origem do mal-estar

     O mal-estar na civilização tem origem na tensão entre os instintos individuais e as exigências sociais. Freud aponta que, para garantir a sobrevivência e a estabilidade da sociedade, o homem deve renunciar a parte de sua liberdade instintiva, o que provoca frustração e sofrimento.


Superego e internalização das normas

      O superego surge da internalização das normas e valores sociais, funcionando como uma instância psíquica que julga e reprime os desejos do indivíduo. Ele cria sentimentos de culpa e autocensura sempre que os impulsos instintivos entram em conflito com as regras da civilização.


Culpa e repressão

      A repressão é central para a manutenção da ordem social. Ao reprimir desejos instintivos, o indivíduo desenvolve sentimentos de culpa, que se tornam mecanismos internos de controle. Freud observa que a culpa não é apenas moral, mas também psíquica, surgindo da tensão entre instinto e normas sociais.


Renúncia aos instintos

     A civilização exige renúncia contínua a certos impulsos, principalmente agressivos e sexuais. Essa renúncia é necessária para a cooperação e a convivência social, mas causa insatisfação, ansiedade e sofrimento. A repressão desses instintos é vista como um mal necessário para o progresso coletivo.


Papel da cultura

     A cultura organiza e regula a vida social, moldando desejos e comportamentos. Ela funciona como mediadora entre os instintos humanos e as exigências da sociedade, permitindo segurança, ordem e desenvolvimento coletivo. No entanto, também é fonte de mal-estar, pois impõe limitações à liberdade individual.


Tensão entre liberdade e segurança

      Freud destaca a dicotomia entre o desejo humano por liberdade plena e a necessidade de segurança social. A civilização limita a expressão dos instintos, mas garante proteção contra o caos e a violência, criando um equilíbrio instável entre prazer e restrição.




Amor e agressividade

     O autor analisa que a civilização tenta transformar a agressividade instintiva em formas socialmente aceitáveis de comportamento. O amor, a moral e a religião são instrumentos de controle, regulando relações humanas e canalizando impulsos que, se liberados, poderiam gerar conflitos e destruição.


Religião e moralidade

    A religião e a moralidade são mecanismos de regulação do comportamento humano, internalizando normas sociais e controlando instintos. Elas contribuem para o mal-estar, pois reprimem desejos naturais, mas também são essenciais para a coesão social e a estabilidade cultural.


Progresso e sofrimento

      Freud reconhece que o avanço da civilização traz benefícios como segurança, organização e progresso material. Entretanto, esses ganhos estão sempre acompanhados de sofrimento psicológico decorrente da repressão instintiva. O mal-estar é, portanto, inerente à vida civilizada.


Alienação do indivíduo

     O indivíduo é alienado em relação aos próprios instintos e desejos, vivendo sob regras impostas pela sociedade. A civilização molda a subjetividade, criando conflitos internos que refletem a tensão entre natureza e cultura.


Psicologia e história

     Freud conecta psicologia individual à história social, mostrando que o mal-estar não é apenas pessoal, mas também coletivo. As condições históricas e culturais moldam o comportamento e a experiência psíquica, influenciando sentimentos, pensamentos e ações humanas.


Conflitos universais

     O mal-estar é um fenômeno universal, presente em todas as civilizações. A tensão entre instintos e normas, culpa e repressão, prazer e renúncia é constante, independente do tempo ou espaço, sendo característica fundamental da condição humana.


Reflexão crítica sobre a civilização

      Freud não condena a civilização, mas propõe compreender suas limitações e custos. A análise crítica mostra que o progresso social é acompanhado de sofrimento, e que a liberdade individual é sempre parcial, mediada por regras coletivas.

      Conclusão geral do livro evidencia que a psique humana é inseparável da sociedade, que a civilização molda o inconsciente e que o mal-estar é consequência inevitável das restrições impostas à satisfação dos instintos. A obra de Freud oferece ferramentas para compreender os conflitos internos do sujeito e a complexa relação entre indivíduo e cultura.



3 Karl Marx e as Contradições do Capitalismo

     Nildo Viana, reconhecido por suas análises críticas da sociedade contemporânea e pelo diálogo entre Marx e Freud. Em Karl Marx: a crítica desapiedada do existente (2017), o autor apresenta uma interpretação detalhada da obra de Marx, destacando sua capacidade de analisar e denunciar as contradições do capitalismo. 

     O livro examina conceitos centrais como trabalho, exploração, alienação e luta de classes, mostrando como Marx questiona a ordem social e econômica vigente. Viana enfatiza a relevância do pensamento marxista para compreender os processos históricos, as relações de poder e as desigualdades estruturais. A obra constitui uma leitura acessível e crítica, voltada tanto para estudiosos quanto para leitores interessados em teoria social.


Crítica ao capitalismo

    Viana apresenta Marx como um crítico implacável do capitalismo, destacando sua capacidade de revelar contradições estruturais no modo de produção capitalista. O sistema é analisado como fonte de desigualdade, exploração e alienação.


Trabalho como essência humana

    O trabalho é central na análise marxista. Marx argumenta que o ser humano se realiza plenamente por meio do trabalho criativo, mas o capitalismo transforma o trabalho em mercadoria, alienando o trabalhador de sua essência.




Alienação

    A alienação é um conceito-chave. O trabalhador se torna estranho ao produto do próprio trabalho, ao processo produtivo, a si mesmo e aos outros, gerando desumanização e perda de autonomia.


Mais-valia e exploração

     Marx descreve a exploração do trabalhador por meio da mais-valia: a diferença entre o valor produzido e o salário pago é apropriada pelo capitalista, mantendo a desigualdade econômica.

Luta de classes

    A história é vista como história de lutas de classes. A tensão entre capitalistas e trabalhadores é motor da transformação social, sendo a consciência de classe um elemento crucial para a emancipação.


Ideologia e consciência

    Viana destaca que Marx critica a ideologia dominante, que mascara as relações de exploração e naturaliza a desigualdade. A consciência crítica é necessária para compreender e superar a opressão social.


Materialismo histórico

     A sociedade é entendida a partir das condições materiais de produção. As relações sociais e políticas derivam da organização econômica, influenciando cultura, religião e instituições.


Estrutura e superestrutura

    A base econômica (estrutura) determina, em grande medida, a superestrutura social, que inclui política, cultura e leis. A crítica de Marx evidencia como a ideologia sustenta a dominação.


Acumulação de capital

     A concentração de riqueza e poder nas mãos de poucos é apresentada como característica inevitável do capitalismo, levando à precarização do trabalho e à instabilidade social.


Crítica à mercadoria

     A mercadoria não é apenas um objeto de troca, mas também um instrumento de alienação, pois transforma relações humanas em relações entre coisas.


Dinâmica histórica

      Viana ressalta que Marx vê o capitalismo como um sistema histórico, não natural, sujeito a crises internas que podem gerar transformações sociais significativas.


Desigualdade social

    O capitalismo produz desigualdade estrutural. A apropriação privada dos meios de produção garante privilégios a uma classe dominante, enquanto a maioria permanece explorada.


Relação trabalho-capital

    O conflito entre trabalho e capital é permanente. Marx analisa como o capital busca maximizar lucro e produtividade, muitas vezes às custas da dignidade e do bem-estar do trabalhador.


Emancipação humana

      A superação do capitalismo requer a transformação das relações sociais e a eliminação da exploração. A emancipação envolve a libertação do trabalhador da alienação e da opressão estrutural.


Crítica à moral burguesa

    Marx, segundo Viana, demonstra como valores e normas da burguesia legitimam a dominação e obscurecem a realidade das relações de exploração.


Educação e consciência crítica

     A conscientização política e social é fundamental. O trabalhador deve entender sua posição no sistema para agir coletivamente e transformar a sociedade.


Atualidade do pensamento marxista

    Viana destaca que a análise marxista continua relevante para compreender crises econômicas, desigualdades globais e mecanismos de exploração contemporâneos.


Transformação social

    A mudança não é espontânea. Exige organização, luta coletiva e compreensão das contradições do sistema. O socialismo é apresentado como alternativa para a superação da exploração.


Produção e reprodução social

     A forma de produzir condiciona a forma de viver, pensar e organizar a sociedade. O capitalismo molda a vida social e psíquica, reproduzindo desigualdades e alienação.


Integração com crítica freudo-marxista

     Viana também articula Marx com Freud, mostrando que a opressão e alienação não se restringem ao econômico, mas afetam a subjetividade, os desejos e o comportamento humano.

     O livro de Viana evidencia que Marx concebia a sociedade como um sistema de relações sociais centrado na produção material, em que o trabalho é a principal força geradora de valor e de contradições sociais. 

     A exploração do trabalho e a acumulação de capital aparecem como elementos estruturais do capitalismo, reforçando desigualdades e alienando os sujeitos. Viana destaca a crítica marxista à ideologia dominante, que naturaliza a dominação e obscurece a compreensão das condições históricas. 

    A alienação do trabalhador não se restringe ao econômico, mas também atinge a dimensão psíquica e social. A luta de classes é apresentada como motor da história e possibilidade de transformação social. Marx, segundo Viana, oferece ferramentas para analisar criticamente a realidade e propor alternativas emancipatórias. 

   O autor também discute a atualidade do pensamento marxista, mostrando sua aplicabilidade para compreender crises contemporâneas e desigualdades globais. A obra enfatiza a necessidade de consciência crítica, reflexão histórica e ação coletiva. Por fim, Viana posiciona Marx como um pensador indispensável para a crítica da sociedade capitalista e para a busca da emancipação humana.


Conclusão

   A obra de Nildo Viana, no diálogo com Karl Marx e Sigmund Freud, oferece uma perspectiva fundamental para o freudismo-marxismo contemporâneo. Sua análise supera as armadilhas do mecanicismo marxista e do biologismo freudiano, propondo uma síntese que historiciza o universo psíquico.

    Ao conceber o inconsciente coletivo como o locus das potencialidades humanas reprimidas pelo capital, Viana (2002, 2008) demonstra a importância de uma crítica que se estende da base econômica à superestrutura ideológica e à própria subjetividade. A articulação entre a crítica radical do capitalismo e a psicanálise ressignificada permite uma compreensão mais profunda da reprodução social e, simultaneamente, da persistente capacidade de resistência e transformação humana.

      A contribuição de Viana reforça a tese de que a libertação humana plena exige não apenas a superação das relações de produção capitalistas, mas também a emancipação do psiquismo de todas as formas de repressão e alienação impostas pela sociabilidade burguesa.

      Para Freud e Marx apresentam perspectivas distintas, mas complementares, sobre a condição humana e as tensões sociais. Freud focaliza o indivíduo, analisando o conflito entre instintos naturais e normas culturais, destacando o papel da repressão, culpa e mal-estar na formação da subjetividade. 

     Marx, por sua vez, aborda a sociedade como um todo, identificando contradições estruturais do capitalismo, exploração do trabalho e alienação como fontes de sofrimento coletivo. Enquanto Freud enfatiza a dimensão psíquica e a internalização de normas pelo superego, Marx destaca a dimensão material e histórica, mostrando como a economia e as relações de produção moldam a vida social. 

     Ambos reconhecem limites à liberdade: Freud na esfera individual, através da repressão instintiva; Marx na esfera social, pela opressão econômica e ideológica. Freud mostra como a civilização impõe renúncia aos desejos, produzindo angústia e culpa; Marx revela como o capitalismo impõe renúncia à criatividade e à autonomia, gerando alienação. 

    O mal-estar, para Freud, é inevitável na convivência social; para Marx, o sofrimento é historicamente condicionado e passível de superação através da transformação social. A repressão freudiana e a exploração marxista se conectam na crítica à opressão: uma no plano psíquico, outra no econômico e político. Freud analisa os mecanismos internos de controle, Marx os externos e coletivos. 

    Ambos indicam que a cultura e a sociedade moldam profundamente o sujeito, seja através de normas internalizadas, seja pela estrutura econômica dominante. Amor, moral e religião, segundo Freud, regulam impulsos; para Marx, ideologia e moralidade reproduzem dominação. Freud evidencia a tensão entre prazer e dever; Marx, entre trabalho e capital. 

   A consciência crítica é central para ambos: para Freud, na compreensão de desejos e conflitos internos; para Marx, na compreensão da exploração e das contradições sociais. Em síntese, Freud fornece ferramentas para entender a subjetividade e os conflitos internos; Marx oferece instrumentos para analisar a sociedade e suas desigualdades estruturais. Integrar suas análises permite compreender a alienação tanto psicológica quanto social. 

    A abordagem freudista-marxista, como sugere Viana, mostra que opressão e sofrimento não se restringem a uma dimensão, mas atravessam psique, cultura e economia. Enquanto Freud enfatiza a inevitabilidade do mal-estar, Marx aponta caminhos para a emancipação coletiva. Ambos, portanto, oferecem lentes complementares para compreender a complexidade da vida humana, articulando desejos, normas, trabalho, poder e história. 

     A compreensão conjunta possibilita uma visão crítica que conecta o indivíduo à sociedade, mostrando que a liberdade e o bem-estar são moldados tanto por fatores internos quanto estruturais. Freud e Marx nos ensinam que a transformação exige reflexão, autoconhecimento e ação coletiva, reconhecendo que a psique e a história estão intrinsecamente entrelaçadas. A síntese freudista-marxista evidencia que o mal-estar humano tem raízes tanto na estrutura social quanto na dinâmica psíquica, permitindo uma análise profunda da condição humana.


Referências

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1975. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XXI).

VIANA, Nildo. Inconsciente coletivo e materialismo histórico. Goiânia: Edições Germinal, 2002.

VIANA, Nildo. Universo psíquico e reprodução do capital: ensaios freudo-marxistas. São Paulo: Escuta, 2008.

VIANA, Nildo. Karl Marx: a crítica desapiedada do existente. Curitiba: Prismas, 2017.



Fonte: https://chatgpt.com/c/68f3b3e9-66ec-832d-9bc0-c6cf3c253c9c


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