sábado, 18 de outubro de 2025

Diálogo Freud e Marx na Crítica à Reprodução Social Capitalista

 O presente estudo sobre: Diálogo Freud e Marx na Crítica à Reprodução Social Capitalista, tem como objetivo integrar Marx e Freud, a metodologia empregada baseia-se na pesquisa bibliográfica interpretação e análise crítica do materialismo histórico de Karl Marx e a psicanálise de Sigmund Freud. Conclusão: Articula-se Marx e Freud, mostrando como o capitalismo molda o inconsciente coletivo e a subjetividade. Sua análise evidencia que a emancipação humana depende da transformação social e psíquica. Nildo Viana argumenta que a libertação plena do indivíduo depende da mudança das condições sociais de exploração. Ao mesmo tempo, é necessária a transformação do psiquismo, superando a repressão e alienação impostas pela sociedade.


Palavras-chave: Coletivo; Crítica ao Capitalismo; Freud; Inconsciente; Karl Marx; Sigmund 


Introdução

     A relação entre marxismo e psicanálise constitui um campo fértil e complexo de debates desde meados do século XX, envolvendo nomes como Wilhelm Reich, Erich Fromm e Herbert Marcuse, notadamente ligados à Escola de Frankfurt. O desafio central é integrar a crítica da economia política, focada na estrutura e nas relações de produção (Marx), com a investigação da subjetividade e do inconsciente (Freud), sem cair em reducionismos ou ecletismos superficiais.

   Nesse panorama, a obra do sociólogo Nildo Viana emerge como uma tentativa de radicalização do freudismo-marxismo (VIANA, 2008), buscando um diálogo que mantenha a coerência metodológica do materialismo histórico-dialético. Viana (2008) propõe analisar o universo psíquico não como uma esfera isolada e naturalizada, mas como um elemento fundamental para a reprodução do capital, atravessado pelas contradições de classe e pela sociabilidade burguesa.

     O objetivo deste estudo é apresentar os principais pontos da contribuição de Nildo Viana nesse diálogo, destacando sua crítica às "ficções freudianas" (como o instinto de morte e o Complexo de Édipo enquanto categorias universais e a históricas) e sua reelaboração de conceitos psicanalíticos sob a ótica do materialismo histórico, com destaque para a noção de inconsciente coletivo (VIANA, 2002). A metodologia empregada baseia-se na pesquisa bibliográfica e na análise crítica dos principais textos do autor sobre o tema e Karl Marx e Sigmund Freud.

     A sequência dos conceitos iniciamos com: O Marxismo Autêntico e a Psicanálise: Rejeitando os Pseudomarxismos: Freud analisa a civilização como um sistema que reprime instintos humanos, principalmente sexuais e agressivos, gerando mal-estar e sofrimento psicológico. 

       O superego e a internalização de normas sociais criam culpa e autocensura, enquanto a cultura regula comportamentos e mediatiza a convivência social. A tensão entre liberdade individual e segurança coletiva é constante, e o progresso civilizatório sempre traz limitações à satisfação dos desejos. 

    Amor, moral e religião funcionam como instrumentos de controle e canalização de impulsos. Assim, a subjetividade humana é inseparável das condições históricas e sociais em que se insere.

      Em seguida a Psicanálise de Sigmund Freud: Sigmund Freud analisa a civilização como um sistema que reprime instintos naturais, especialmente sexuais e agressivos, gerando mal-estar e sofrimento psicológico. 

     O superego e a internalização de normas sociais criam culpa e autocensura, enquanto a cultura regula desejos e comportamentos em prol da ordem coletiva. A tensão entre liberdade individual e segurança social é constante, assim como a transformação da agressividade e do amor em formas socialmente aceitáveis. 

     O progresso civilizatório traz benefícios materiais, mas sempre acompanhado de frustração psíquica. Freud evidencia que a subjetividade humana é inseparável das condições históricas e sociais.

      E por fim a terceira parte Karl Marx e as Contradições do Capitalismo: Karl Marx, segundo Nildo Viana, analisa o capitalismo como um sistema histórico marcado por desigualdade, exploração e alienação, em que o trabalho criativo é transformado em mercadoria. A mais-valia evidencia a exploração econômica, enquanto a luta de classes impulsiona a transformação social. 

     A ideologia dominante máscara a opressão, e a consciência crítica é essencial para a emancipação humana. A integração com a psicanálise mostra que a alienação atinge também a subjetividade, os desejos e comportamento. A superação do capitalismo exige ação coletiva, educação e reflexão histórica.



1 O Marxismo Autêntico e a Psicanálise: Rejeitando os Pseudomarxismos

      Viana (2008) parte de uma leitura rigorosa de Marx, focada na categoria de totalidade, na centralidade da produção e na luta de classes como motor da história. Sua crítica visa as tentativas de conciliação que desviam tanto do materialismo histórico quanto da própria psicanálise em seus aspectos mais radicais. 

     Para ele, as concepções pseudomarxistas frequentemente incorreram em um mecanicismo que subestimava a importância da subjetividade e do universo psíquico na reprodução das relações sociais.

     Em Universo psíquico e reprodução do capital: ensaios freudistas-marxistas, Nildo Viana propõe uma leitura crítica que integra Marx e Freud para compreender como o capitalismo molda tanto a estrutura social quanto a subjetividade humana. 

     A obra analisa a relação entre inconsciente, ideologia e reprodução social, destacando o papel do psiquismo na manutenção do sistema capitalista. Trata-se de uma contribuição original à teoria crítica e à sociologia contemporânea.


Articulação entre psicanálise e marxismo

     A sociedade capitalista estrutura-se sobre uma lógica competitiva que ultrapassa o campo econômico e alcança as dimensões simbólicas e subjetivas da vida social. A busca incessante por prestígio, reconhecimento e ascensão revela as hierarquias que moldam as relações humanas. Nesse contexto, o status torna-se um instrumento de distinção e de reprodução das desigualdades.

A competição para ficar no cume da pirâmide social revelada pela busca de status, luta por ascensão social etc. Esta competição social está presente no conjunto das relações sociais capitalistas (VIANA, 2008, p.23).

    A competição social é expressão da própria dinâmica do capitalismo, que transforma indivíduos em rivais na corrida pelo topo da pirâmide. A luta por status, longe de ser apenas pessoal, é parte de um sistema que naturaliza a desigualdade. Romper com essa lógica exige repensar os valores que sustentam a ordem social vigente.


Inconsciente e ideologia

      A partir do diálogo entre Marx e Freud, Viana propõe compreender o ser humano como resultado da interação entre dimensões psíquicas e sociais. Essa abordagem revela que a subjetividade é moldada tanto por impulsos inconscientes quanto pelas estruturas históricas do capitalismo.

O ser humano, assim, é um ser determinado, movido pelo conflito entre duas forças dominantes em seu aparelho psíquico, ou seja, pelas forças inconscientes e pelas forças sociais. (VIANA, 2008, p.47).

    Para Viana, a integração entre Freud e Marx permite desvelar como o conflito interior reflete as contradições sociais. Assim, a emancipação humana exige transformar não apenas a economia, mas também o próprio inconsciente socialmente condicionado.


Reprodução do capital e subjetividade

      Ao relacionar Marx e Freud, Viana evidencia que o trabalho e a cooperação não são apenas categorias econômicas, mas também expressões do inconsciente humano. O vínculo social, portanto, é simultaneamente uma necessidade material e psíquica.

(...) os seres humanos não realizam o trabalho individualmente e sim coletivamente, por meio da cooperação. Essa cooperação, está associação com outros seres humanos, torna-se também uma necessidade humana - não apenas do ponto de vista da sobrevivência, mas também do ponto de vista psíquico. (VIANA, 2008, p. 62).

     Sob essa perspectiva, a alienação do trabalho capitalista rompe tanto a solidariedade coletiva quanto o equilíbrio psíquico do sujeito. Assim, a libertação humana implica restaurar a integração entre o social e o inconsciente.


Alienação e desejo

     A citação de Viana revela a convergência entre Freud e Marx ao mostrar que as emoções humanas emergem das relações sociais. O sujeito só se reconhece e se constitui efetivamente na presença do outro e dentro de um contexto histórico.

(...) do ciúme, do medo, da inveja, do amor fraterno, do remorso, pois estes só podem existir após o reconhecimento do outro, ou seja, num contexto social. (VIANA, 2008, p. 89).

      Assim, os sentimentos não são apenas expressões individuais, mas produtos das condições sociais e inconscientes. Para Marx e Freud, compreender o homem é compreender, ao mesmo tempo, sua estrutura psíquica e o mundo social que o forma.


Emancipação e crítica da razão instrumental

     A reflexão de Viana articula as teorias de Freud e Marx ao apontar que a verdadeira libertação do indivíduo exige tanto uma transformação social quanto psíquica. O sujeito é moldado por estruturas externas e internas que o condicionam à dominação. Sob a ótica marxista, a emancipação implica superar as condições materiais de exploração; sob a ótica freudiana, exige libertar-se das repressões inconscientes impostas pela cultura. Assim, para Viana, a liberdade plena só ocorre quando o indivíduo rompe com as amarras sociais e psíquicas que sustentam o capitalismo e sua ideologia.

      Por outro lado, Viana (2008) critica o biologismo e o pansexualismo presentes em Freud que resultam na naturalização de fenômenos sociais e históricos. Ao transformar a repressão em um dado universal da civilização (o mal-estar na cultura), e não um produto das relações de classe e da sociabilidade capitalista, Freud (1975) acaba por produzir "ficções freudianas" que ocultam a determinação histórica do psiquismo.


Inconsciente Coletivo e Reprodução do Capital

A principal contribuição de Viana para o diálogo freudano-marxista reside na reelaboração do conceito de inconsciente. Ele propõe a categoria de inconsciente coletivo como o conjunto das "necessidades-potencialidades humanas reprimidas numa coletividade" (VIANA, 2002). Essa repressão não é vista como um imperativo biológico ou uma necessidade da "civilização" em geral, mas como um resultado direto da organização social capitalista, que exige a adaptação da subjetividade aos imperativos da produção e da acumulação.

A repressão, nessa perspectiva, é um mecanismo social que busca adequar os indivíduos ao "modo de pensar burguês" e à reprodução ideológica da sociedade. O inconsciente, então, não é apenas um depósito de pulsões e traumas individuais, mas um reservatório de aspirações e potências humanas – como o desejo de liberdade, a criatividade e a capacidade de amar – que são sistematicamente esmagadas pela sociabilidade capitalista e pelo processo de coisificação (VIANA, 2008).

Ao criticar a "abjuração dos sentimentos" (VIANA, 2008) em Freud, Viana resgata a dimensão do desejo e dos sentimentos como manifestações de necessidades humanas que se opõem à lógica utilitarista e instrumental do capital. A neurose e as patologias psíquicas contemporâneas são lidas, em última instância, como expressões do conflito entre as potencialidades humanas e as exigências da reprodução social capitalista.


A Resistência e o Caráter Teleológico da Consciência

A crítica de Viana (2008) não se limita à dimensão patológica da sociedade, mas aponta para a resistência. As fantasias, os sonhos e as utopias são compreendidos como manifestações que "resistem à repressão" e "voltam ao consciente", constituindo-se em elementos de negação prático-crítica à sociabilidade restritiva.

Ao enfatizar o caráter social e histórico da constituição da consciência, Viana (2008) reintroduz a possibilidade de superação. A consciência, em sua dimensão teleológica (voltada para a transformação), pode contribuir para a superação das condições dadas, impulsionada pelas necessidades-potencialidades que o inconsciente coletivo expressa.

      Nildo Viana é sociólogo e filósofo brasileiro, reconhecido por suas análises que articulam psicanálise e teoria social marxista. Em Inconsciente coletivo e materialismo histórico (2002), o autor propõe uma reflexão inovadora sobre como a subjetividade humana se estrutura em relação às condições sociais e históricas. 

     A obra investiga a dimensão psíquica da vida social, mostrando que o inconsciente coletivo é profundamente influenciado pelas relações de produção e pela ideologia dominante. Viana contribui para a compreensão de como o psiquismo e a sociedade se moldam mutuamente, oferecendo uma leitura crítica das estruturas sociais. Assim, o livro torna-se referência fundamental para estudos freudista-marxistas e para a teoria crítica contemporânea.


Inconsciente coletivo e sociedade

     Viana (2002) destaca que o inconsciente coletivo não se reduz à soma das experiências individuais, mas é moldado historicamente pelas relações sociais. Essa perspectiva evidencia a interdependência entre subjetividade e estrutura social.

“O inconsciente coletivo não é apenas um acúmulo de experiências individuais, mas um produto histórico das relações sociais” (VIANA, 2002).

     Compreender o inconsciente coletivo exige analisar os contextos históricos e sociais que o constituem. O psiquismo humano reflete e reproduz, ao mesmo tempo, as dinâmicas e contradições da sociedade.


Relação entre psique e materialismo histórico

    Viana (2002) enfatiza que a compreensão da psique humana não pode se separar das condições materiais e sociais em que o indivíduo está inserido. A vida social e econômica molda profundamente o funcionamento do inconsciente.

“A psique humana deve ser compreendida à luz das estruturas materiais que condicionam a vida social” (VIANA, 2002).

    Portanto, a análise do psiquismo exige considerar as estruturas materiais que influenciam pensamentos, desejos e comportamentos. A subjetividade humana reflete as condições históricas e sociais de sua existência.


Ideologia e reprodução social

      Para Viana (2002) ressalta que o inconsciente coletivo não é neutro, sendo marcado pelas ideologias dominantes que moldam valores e comportamentos. Dessa forma, a psique individual e coletiva contribui para a manutenção da ordem social vigente.

“As ideologias dominantes se inscrevem no inconsciente coletivo, perpetuando a ordem social existente” (VIANA, 2002).

      A internalização das ideologias perpetua as estruturas de poder e desigualdade. Compreender essa dinâmica é essencial para analisar como a sociedade reproduz suas próprias hierarquias.


Conflito e transformação social

   Viana (2002) aponta que o inconsciente coletivo não é homogêneo, pois carrega contradições que refletem tensões sociais e históricas. Essas contradições oferecem potenciais caminhos para a transformação social.

“O inconsciente coletivo também contém os germes de contradição, que podem impulsionar a mudança histórica” (VIANA, 2002).

    Portanto, mesmo moldado pelas estruturas existentes, o inconsciente coletivo pode ser um motor de mudança histórica. Reconhecer esses elementos contraditórios é fundamental para compreender a dinâmica da transformação social.


Emancipação humana

    A emancipação humana depende do reconhecimento das forças sociais que condicionam a subjetividade individual. A consciência crítica é, portanto, um passo fundamental para a liberdade.

“A emancipação só é possível quando o sujeito toma consciência das determinações sociais que moldam sua subjetividade” (VIANA, 2002).

    Romper com as determinações sociais internalizadas permite ao sujeito agir de forma autônoma e transformar tanto sua vida quanto a sociedade. A libertação exige reflexão sobre as estruturas que moldam pensamentos e comportamentos.



2 Psicanálise de Sigmund Freud

    Sigmund Freud (1856–1939) foi médico neurologista e fundador da psicanálise, desenvolvendo teorias revolucionárias sobre o inconsciente, os mecanismos de defesa e a formação da subjetividade humana. Ao longo de sua obra, Freud buscou compreender as tensões entre desejos individuais e normas sociais. 

      Em O mal-estar na civilização (1975), incluído na Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, v. XXI, o autor analisa como a civilização impõe restrições aos instintos humanos, gerando conflitos entre o desejo de satisfação pessoal e a necessidade de conformidade social. A obra discute a origem da angústia, da culpa e do sofrimento psicológico, estabelecendo conexões entre a psicologia individual e os condicionamentos culturais e históricos.


Conflito entre instintos e civilização

     Freud argumenta que o ser humano possui instintos naturais, sobretudo sexuais e agressivos, que são reprimidos pela civilização. Essa repressão é necessária para que haja convivência social, mas gera tensão e sofrimento psicológico. O indivíduo, portanto, vive um constante conflito entre o desejo de satisfação pessoal e a necessidade de adaptação às normas coletivas.


Função da civilização

     A civilização surge como um mecanismo para controlar impulsos individuais e garantir segurança e ordem social. Ao organizar a vida coletiva, a cultura impõe limites, regras e proibições que moldam o comportamento humano. No entanto, esse controle tem um preço: a limitação da liberdade e o surgimento do mal-estar.


Origem do mal-estar

     O mal-estar na civilização tem origem na tensão entre os instintos individuais e as exigências sociais. Freud aponta que, para garantir a sobrevivência e a estabilidade da sociedade, o homem deve renunciar a parte de sua liberdade instintiva, o que provoca frustração e sofrimento.


Superego e internalização das normas

      O superego surge da internalização das normas e valores sociais, funcionando como uma instância psíquica que julga e reprime os desejos do indivíduo. Ele cria sentimentos de culpa e autocensura sempre que os impulsos instintivos entram em conflito com as regras da civilização.


Culpa e repressão

      A repressão é central para a manutenção da ordem social. Ao reprimir desejos instintivos, o indivíduo desenvolve sentimentos de culpa, que se tornam mecanismos internos de controle. Freud observa que a culpa não é apenas moral, mas também psíquica, surgindo da tensão entre instinto e normas sociais.


Renúncia aos instintos

     A civilização exige renúncia contínua a certos impulsos, principalmente agressivos e sexuais. Essa renúncia é necessária para a cooperação e a convivência social, mas causa insatisfação, ansiedade e sofrimento. A repressão desses instintos é vista como um mal necessário para o progresso coletivo.


Papel da cultura

     A cultura organiza e regula a vida social, moldando desejos e comportamentos. Ela funciona como mediadora entre os instintos humanos e as exigências da sociedade, permitindo segurança, ordem e desenvolvimento coletivo. No entanto, também é fonte de mal-estar, pois impõe limitações à liberdade individual.


Tensão entre liberdade e segurança

      Freud destaca a dicotomia entre o desejo humano por liberdade plena e a necessidade de segurança social. A civilização limita a expressão dos instintos, mas garante proteção contra o caos e a violência, criando um equilíbrio instável entre prazer e restrição.




Amor e agressividade

     O autor analisa que a civilização tenta transformar a agressividade instintiva em formas socialmente aceitáveis de comportamento. O amor, a moral e a religião são instrumentos de controle, regulando relações humanas e canalizando impulsos que, se liberados, poderiam gerar conflitos e destruição.


Religião e moralidade

    A religião e a moralidade são mecanismos de regulação do comportamento humano, internalizando normas sociais e controlando instintos. Elas contribuem para o mal-estar, pois reprimem desejos naturais, mas também são essenciais para a coesão social e a estabilidade cultural.


Progresso e sofrimento

      Freud reconhece que o avanço da civilização traz benefícios como segurança, organização e progresso material. Entretanto, esses ganhos estão sempre acompanhados de sofrimento psicológico decorrente da repressão instintiva. O mal-estar é, portanto, inerente à vida civilizada.


Alienação do indivíduo

     O indivíduo é alienado em relação aos próprios instintos e desejos, vivendo sob regras impostas pela sociedade. A civilização molda a subjetividade, criando conflitos internos que refletem a tensão entre natureza e cultura.


Psicologia e história

     Freud conecta psicologia individual à história social, mostrando que o mal-estar não é apenas pessoal, mas também coletivo. As condições históricas e culturais moldam o comportamento e a experiência psíquica, influenciando sentimentos, pensamentos e ações humanas.


Conflitos universais

     O mal-estar é um fenômeno universal, presente em todas as civilizações. A tensão entre instintos e normas, culpa e repressão, prazer e renúncia é constante, independente do tempo ou espaço, sendo característica fundamental da condição humana.


Reflexão crítica sobre a civilização

      Freud não condena a civilização, mas propõe compreender suas limitações e custos. A análise crítica mostra que o progresso social é acompanhado de sofrimento, e que a liberdade individual é sempre parcial, mediada por regras coletivas.

      Conclusão geral do livro evidencia que a psique humana é inseparável da sociedade, que a civilização molda o inconsciente e que o mal-estar é consequência inevitável das restrições impostas à satisfação dos instintos. A obra de Freud oferece ferramentas para compreender os conflitos internos do sujeito e a complexa relação entre indivíduo e cultura.



3 Karl Marx e as Contradições do Capitalismo

     Nildo Viana, reconhecido por suas análises críticas da sociedade contemporânea e pelo diálogo entre Marx e Freud. Em Karl Marx: a crítica desapiedada do existente (2017), o autor apresenta uma interpretação detalhada da obra de Marx, destacando sua capacidade de analisar e denunciar as contradições do capitalismo. 

     O livro examina conceitos centrais como trabalho, exploração, alienação e luta de classes, mostrando como Marx questiona a ordem social e econômica vigente. Viana enfatiza a relevância do pensamento marxista para compreender os processos históricos, as relações de poder e as desigualdades estruturais. A obra constitui uma leitura acessível e crítica, voltada tanto para estudiosos quanto para leitores interessados em teoria social.


Crítica ao capitalismo

    Viana apresenta Marx como um crítico implacável do capitalismo, destacando sua capacidade de revelar contradições estruturais no modo de produção capitalista. O sistema é analisado como fonte de desigualdade, exploração e alienação.


Trabalho como essência humana

    O trabalho é central na análise marxista. Marx argumenta que o ser humano se realiza plenamente por meio do trabalho criativo, mas o capitalismo transforma o trabalho em mercadoria, alienando o trabalhador de sua essência.




Alienação

    A alienação é um conceito-chave. O trabalhador se torna estranho ao produto do próprio trabalho, ao processo produtivo, a si mesmo e aos outros, gerando desumanização e perda de autonomia.


Mais-valia e exploração

     Marx descreve a exploração do trabalhador por meio da mais-valia: a diferença entre o valor produzido e o salário pago é apropriada pelo capitalista, mantendo a desigualdade econômica.

Luta de classes

    A história é vista como história de lutas de classes. A tensão entre capitalistas e trabalhadores é motor da transformação social, sendo a consciência de classe um elemento crucial para a emancipação.


Ideologia e consciência

    Viana destaca que Marx critica a ideologia dominante, que mascara as relações de exploração e naturaliza a desigualdade. A consciência crítica é necessária para compreender e superar a opressão social.


Materialismo histórico

     A sociedade é entendida a partir das condições materiais de produção. As relações sociais e políticas derivam da organização econômica, influenciando cultura, religião e instituições.


Estrutura e superestrutura

    A base econômica (estrutura) determina, em grande medida, a superestrutura social, que inclui política, cultura e leis. A crítica de Marx evidencia como a ideologia sustenta a dominação.


Acumulação de capital

     A concentração de riqueza e poder nas mãos de poucos é apresentada como característica inevitável do capitalismo, levando à precarização do trabalho e à instabilidade social.


Crítica à mercadoria

     A mercadoria não é apenas um objeto de troca, mas também um instrumento de alienação, pois transforma relações humanas em relações entre coisas.


Dinâmica histórica

      Viana ressalta que Marx vê o capitalismo como um sistema histórico, não natural, sujeito a crises internas que podem gerar transformações sociais significativas.


Desigualdade social

    O capitalismo produz desigualdade estrutural. A apropriação privada dos meios de produção garante privilégios a uma classe dominante, enquanto a maioria permanece explorada.


Relação trabalho-capital

    O conflito entre trabalho e capital é permanente. Marx analisa como o capital busca maximizar lucro e produtividade, muitas vezes às custas da dignidade e do bem-estar do trabalhador.


Emancipação humana

      A superação do capitalismo requer a transformação das relações sociais e a eliminação da exploração. A emancipação envolve a libertação do trabalhador da alienação e da opressão estrutural.


Crítica à moral burguesa

    Marx, segundo Viana, demonstra como valores e normas da burguesia legitimam a dominação e obscurecem a realidade das relações de exploração.


Educação e consciência crítica

     A conscientização política e social é fundamental. O trabalhador deve entender sua posição no sistema para agir coletivamente e transformar a sociedade.


Atualidade do pensamento marxista

    Viana destaca que a análise marxista continua relevante para compreender crises econômicas, desigualdades globais e mecanismos de exploração contemporâneos.


Transformação social

    A mudança não é espontânea. Exige organização, luta coletiva e compreensão das contradições do sistema. O socialismo é apresentado como alternativa para a superação da exploração.


Produção e reprodução social

     A forma de produzir condiciona a forma de viver, pensar e organizar a sociedade. O capitalismo molda a vida social e psíquica, reproduzindo desigualdades e alienação.


Integração com crítica freudo-marxista

     Viana também articula Marx com Freud, mostrando que a opressão e alienação não se restringem ao econômico, mas afetam a subjetividade, os desejos e o comportamento humano.

     O livro de Viana evidencia que Marx concebia a sociedade como um sistema de relações sociais centrado na produção material, em que o trabalho é a principal força geradora de valor e de contradições sociais. 

     A exploração do trabalho e a acumulação de capital aparecem como elementos estruturais do capitalismo, reforçando desigualdades e alienando os sujeitos. Viana destaca a crítica marxista à ideologia dominante, que naturaliza a dominação e obscurece a compreensão das condições históricas. 

    A alienação do trabalhador não se restringe ao econômico, mas também atinge a dimensão psíquica e social. A luta de classes é apresentada como motor da história e possibilidade de transformação social. Marx, segundo Viana, oferece ferramentas para analisar criticamente a realidade e propor alternativas emancipatórias. 

   O autor também discute a atualidade do pensamento marxista, mostrando sua aplicabilidade para compreender crises contemporâneas e desigualdades globais. A obra enfatiza a necessidade de consciência crítica, reflexão histórica e ação coletiva. Por fim, Viana posiciona Marx como um pensador indispensável para a crítica da sociedade capitalista e para a busca da emancipação humana.


Conclusão

   A obra de Nildo Viana, no diálogo com Karl Marx e Sigmund Freud, oferece uma perspectiva fundamental para o freudismo-marxismo contemporâneo. Sua análise supera as armadilhas do mecanicismo marxista e do biologismo freudiano, propondo uma síntese que historiciza o universo psíquico.

    Ao conceber o inconsciente coletivo como o locus das potencialidades humanas reprimidas pelo capital, Viana (2002, 2008) demonstra a importância de uma crítica que se estende da base econômica à superestrutura ideológica e à própria subjetividade. A articulação entre a crítica radical do capitalismo e a psicanálise ressignificada permite uma compreensão mais profunda da reprodução social e, simultaneamente, da persistente capacidade de resistência e transformação humana.

      A contribuição de Viana reforça a tese de que a libertação humana plena exige não apenas a superação das relações de produção capitalistas, mas também a emancipação do psiquismo de todas as formas de repressão e alienação impostas pela sociabilidade burguesa.

      Para Freud e Marx apresentam perspectivas distintas, mas complementares, sobre a condição humana e as tensões sociais. Freud focaliza o indivíduo, analisando o conflito entre instintos naturais e normas culturais, destacando o papel da repressão, culpa e mal-estar na formação da subjetividade. 

     Marx, por sua vez, aborda a sociedade como um todo, identificando contradições estruturais do capitalismo, exploração do trabalho e alienação como fontes de sofrimento coletivo. Enquanto Freud enfatiza a dimensão psíquica e a internalização de normas pelo superego, Marx destaca a dimensão material e histórica, mostrando como a economia e as relações de produção moldam a vida social. 

     Ambos reconhecem limites à liberdade: Freud na esfera individual, através da repressão instintiva; Marx na esfera social, pela opressão econômica e ideológica. Freud mostra como a civilização impõe renúncia aos desejos, produzindo angústia e culpa; Marx revela como o capitalismo impõe renúncia à criatividade e à autonomia, gerando alienação. 

    O mal-estar, para Freud, é inevitável na convivência social; para Marx, o sofrimento é historicamente condicionado e passível de superação através da transformação social. A repressão freudiana e a exploração marxista se conectam na crítica à opressão: uma no plano psíquico, outra no econômico e político. Freud analisa os mecanismos internos de controle, Marx os externos e coletivos. 

    Ambos indicam que a cultura e a sociedade moldam profundamente o sujeito, seja através de normas internalizadas, seja pela estrutura econômica dominante. Amor, moral e religião, segundo Freud, regulam impulsos; para Marx, ideologia e moralidade reproduzem dominação. Freud evidencia a tensão entre prazer e dever; Marx, entre trabalho e capital. 

   A consciência crítica é central para ambos: para Freud, na compreensão de desejos e conflitos internos; para Marx, na compreensão da exploração e das contradições sociais. Em síntese, Freud fornece ferramentas para entender a subjetividade e os conflitos internos; Marx oferece instrumentos para analisar a sociedade e suas desigualdades estruturais. Integrar suas análises permite compreender a alienação tanto psicológica quanto social. 

    A abordagem freudista-marxista, como sugere Viana, mostra que opressão e sofrimento não se restringem a uma dimensão, mas atravessam psique, cultura e economia. Enquanto Freud enfatiza a inevitabilidade do mal-estar, Marx aponta caminhos para a emancipação coletiva. Ambos, portanto, oferecem lentes complementares para compreender a complexidade da vida humana, articulando desejos, normas, trabalho, poder e história. 

     A compreensão conjunta possibilita uma visão crítica que conecta o indivíduo à sociedade, mostrando que a liberdade e o bem-estar são moldados tanto por fatores internos quanto estruturais. Freud e Marx nos ensinam que a transformação exige reflexão, autoconhecimento e ação coletiva, reconhecendo que a psique e a história estão intrinsecamente entrelaçadas. A síntese freudista-marxista evidencia que o mal-estar humano tem raízes tanto na estrutura social quanto na dinâmica psíquica, permitindo uma análise profunda da condição humana.


Referências

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1975. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XXI).

VIANA, Nildo. Inconsciente coletivo e materialismo histórico. Goiânia: Edições Germinal, 2002.

VIANA, Nildo. Universo psíquico e reprodução do capital: ensaios freudo-marxistas. São Paulo: Escuta, 2008.

VIANA, Nildo. Karl Marx: a crítica desapiedada do existente. Curitiba: Prismas, 2017.



Fonte: https://chatgpt.com/c/68f3b3e9-66ec-832d-9bc0-c6cf3c253c9c


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

A superficialidade de Luiz Felipe Pondé

O presente estudo sobre: A superficialidade de Luiz Felipe Pondé, a metodologia é de estudos secundários de revisão bibliográfica que analisa criticamente a obra e o posicionamento intelectual de Luiz Felipe Pondé, evidenciando traços de superficialidade em seus argumentos filosóficos, sociais e políticos. A pesquisa parte de críticas acadêmicas e jornalísticas, além de obras autorais, buscando compreender como Pondé se consolidou no espaço público como um “filósofo midiático” que privilegia a retórica e o impacto sobre a consistência conceitual. O estudo também destaca contrapontos feitos por críticos como Paulo Ghiraldelli, Franthiesco Ballerini e J. R. da Silva Bezerra , ressaltando a ausência de rigor metodológico e a preferência por generalizações. Conclui-se que a influência de Pondé está mais associada à sua capacidade de comunicação simplificada do que à densidade filosófica.
Palavras-chave: Pondé; superficialidade filosófica; intelectual midiático; retórica reacionária moralista.
Introdução Luiz Felipe Pondé tornou-se uma das vozes mais conhecidas da filosofia no Brasil contemporâneo. Sua presença em jornais, revistas, programas televisivos e redes sociais o transformou em um intelectual midiático, capaz de dialogar com o senso comum e atrair audiências amplas. No entanto, tal visibilidade vem acompanhada de fortes críticas. Parte da academia acusa Pondé de superficialidade, anacronismo e apropriação indevida de referências filosóficas para legitimar posições conservadoras e moralistas. O objetivo deste estudo é investigar em que medida as críticas sobre a superficialidade de Pondé se sustentam, explorando tanto sua produção bibliográfica quanto os debates travados em torno de suas ideias. A análise será estruturada em três eixos principais: (1) a formação filosófica e o uso do legado pascaliano; (2) a atuação midiática e a simplificação retórica; (3) as críticas recebidas de acadêmicos e jornalistas.
1. Formação e fundamentos filosóficos Pondé iniciou sua carreira acadêmica com estudos voltados para a filosofia pascaliana, explorando o existencialismo cristão em obras como O homem insuficiente e Conhecimento na desgraça (2004). Pondé (2001) argumenta que o moralismo contemporâneo e as ideologias reacionárias tendem a reduzir a complexidade da condição humana a normas e fórmulas, ignorando a dimensão trágica e insuficiente da existência. O autor ressalta que a razão isolada não é capaz de abarcar a totalidade da experiência humana, e que o excesso de confiança em modelos ideológicos pode levar à simplificação ética e à desumanização. Sua reflexão inicial girava em torno da condição humana, da insuficiência existencial e da busca por sentido. No entanto, críticos apontam que sua leitura de Pascal permanece restrita e pouco dialoga com tradições filosóficas mais amplas. Pondé (2010) Contra um mundo melhor: ensaios do afeto: Argumenta que o afeto e a experiência emocional devem ser reconhecidos como dimensões centrais da existência, frequentemente negligenciadas por visões racionais e moralistas da sociedade. O autor critica a busca por um “mundo melhor” baseado em ideologias abstratas, enfatizando que tais projetos tendem a desconsiderar a complexidade humana. Ele propõe que o entendimento do sofrimento, da paixão e das contradições afetivas é essencial para uma filosofia que dialogue com a realidade concreta. Tanto em Contra um mundo melhor (Pondé, 2010) quanto em Filosofia para corajosos (Pondé, 2016), o autor enfatiza a centralidade da experiência individual e afetiva frente às ideologias e moralismos coletivos. Em ambos, Pondé defende a reflexão autônoma e corajosa como caminho para lidar com a complexidade humana. Assim, seus ensaios articulam afeto, crítica social e coragem intelectual como pilares de uma filosofia prática e existencial. Pondé (2016) defende a importância da autonomia intelectual, enfatizando que pensar por si próprio exige coragem para questionar consensos sociais, ideologias estabelecidas e moralismos superficiais. O autor critica a adesão acrítica a sistemas racionais ou doutrinas prontas, propondo uma filosofia prática que dialogue com a experiência individual e com a complexidade humana. Ele ressalta que a reflexão autônoma é um antídoto contra a banalização do pensamento e a retórica midiática simplificada. Em (In) felicidade para corajosos - Pondé (2021) argumenta que a felicidade não pode ser reduzida a ideologias ou receitas prontas, sendo necessária uma compreensão corajosa das contradições e limitações humanas. O autor critica o moralismo e a racionalidade instrumental que tentam padronizar a vida emocional, defendendo que a experiência da infelicidade e do sofrimento é central para o autoconhecimento. Assim, a obra valoriza a reflexão individual e a coragem de enfrentar a complexidade da existência sem ilusões simplificadoras.
Em (In) felicidade para corajosos (Pondé, 2021) e A hegemonia do ridículo (Pondé, 2018), o autor critica a superficialidade e a busca por soluções fáceis para a existência humana. Em ambos, destacam a necessidade de enfrentar a complexidade da vida e da experiência emocional sem ilusões simplificadoras. Assim, Pondé articula reflexão crítica, coragem pessoal e resistência à banalização do pensamento como elementos centrais de sua filosofia. Pondé (2018) critica a tendência contemporânea de transformar o debate público em espetáculo e superficialidade, destacando a prevalência do sensacionalismo e da retórica vazia. Segundo o autor, a sociedade moderna valoriza mais a aparência e o impacto imediato do que a reflexão profunda, consolidando uma “hegemonia do ridículo”. Ele argumenta que essa lógica desvaloriza o pensamento crítico, banaliza ideias complexas e reforça uma cultura de superficialidade generalizada. Rodrigo Coppe Caldeira, em resenha sobre Do pensamento no deserto (2009), observa que Pondé privilegia o ensaísmo e a prosa fragmentada, sem desenvolver um sistema coerente ou método robusto. Na resenha da obra Do pensamento no deserto, Caldeira (2025) destaca que Pondé articula filosofia, teologia e literatura a partir de uma visão marcada pelo pessimismo antropológico. O autor enfatiza a influência de Pascal, que conduz à ideia de insuficiência humana e à limitação da razão. A obra questiona projetos modernos de sentido e progresso. Pondé valoriza a dimensão trágica da existência e aposta numa filosofia mais existencial do que sistemática. As análises de Caldeira e a entrevista conduzida por Cordeiro e Webler (2006) convergem no diagnóstico de um pensamento voltado ao limite da razão e à centralidade da experiência trágica. Enquanto a resenha ressalta a influência pascaliana, a entrevista evidencia a crítica ao otimismo moderno. Ambas revelam em Pondé uma filosofia que rejeita certezas fáceis. Na entrevista, Pondé critica a perda da centralidade da religião no mundo contemporâneo, defendendo sua relevância na formação cultural. Questiona o otimismo da modernidade e a crença no progresso racional como caminho único. Afirma que o desencantamento do mundo trouxe vazio e superficialidade. Ressalta que a filosofia deve dialogar com a tradição teológica. Reforça a importância da experiência do trágico para compreender a condição humana. Assim, percebe-se que a obra de Pondé é atravessada por um pessimismo constitutivo e pela recusa em aderir ao progresso como horizonte absoluto. Sua proposta busca articular fé, filosofia e experiência existencial. Dessa forma, constrói-se um discurso que valoriza a dimensão do trágico como chave interpretativa da modernidade. Tal característica, embora acessível ao público, fragiliza o caráter científico de sua obra.
2. O filósofo midiático e a retórica da provocação A partir da década de 2010, Pondé intensificou sua presença na mídia, publicando em veículos como a Folha de S. Paulo e a Gazeta do Povo. Livros como Filosofia para corajosos (2016) e (In)felicidade para corajosos (2021) exemplificam sua guinada para obras de autoajuda filosófica, recheadas de frases de impacto e críticas à modernidade. Críticos como Franthiesco Ballerini (2018) apontam que Pondé faz uso recorrente de generalizações pseudo intelectuais, muitas vezes sem oferecer embasamento empírico ou dialogar com a produção acadêmica contemporânea. Algumas semanas atrás, o filósofo Luiz Felipe Pondé escreveu, na Folha de S.Paulo, mais um de seus textos que partem de generalizações amplas para resumir, em poucas palavras, as pessoas, os comportamentos, as tendências, enfim, o mundo todo. No texto, Pondé diz que “a virtude mais rara no debate público contemporâneo é alguma dose mínima de maturidade. E as redes sociais só pioram: em termos de debates de ideias, as redes sociais só pioraram o mundo. O debate nas redes sociais é coisa de gente boba”. Mais à frente, mudando de assunto como quem muda de canal, Pondé diz que “os jovens mais puritanos, fundamentalistas e intolerantes são os que pensam assim. O veganismo é uma forma de fundamentalismo que carrega rúculas ao invés de bombas”. E tem também digressões típicas daqueles velhos babões solitários, sem sexo e sem amigos, sobre o comportamento sexual dos jovens no século 21. Epa, melhor não generalizar, nem todo homem de mais idade é assim. De qualquer forma, Pondé parece escrever com a autoridade de quem só conhece o tema pelos livros, sendo ele mesmo a melhor definição daquilo que descreve no final de seu próprio texto: “um terreno baldio de bobos e raivosos regados a algoritmos”. Só que sem os algoritmos. (BALLERINI, 2018). Pondé recorre a generalizações pseudo intelectuais que aparentam erudição, mas carecem de sustentação rigorosa. Seu discurso se estrutura em frases de efeito que seduzem pelo impacto, mas empobrecem o debate público. Assume a posição de ‘filósofo midiático’, priorizando visibilidade em detrimento da densidade teórica. Sua crítica social apresenta forte viés conservador disfarçado de análise filosófica. Sua popularidade deriva mais do estilo retórico do que de consistência conceitual. A retórica da provocação, marcada por termos como “idiotas úteis” e “jovens mimados”, aproxima-o mais do discurso opinativo jornalístico do que da filosofia. Pondé frequentemente emprega categorias amplas e afirmações generalizantes para discutir questões complexas da vida moderna. Esse estilo pode ser sedutor para um público que busca respostas rápidas e claras, mas é problemático no contexto de uma análise filosófica que exige rigor e detalhamento. A atratividade desse método está em sua capacidade de fornecer uma sensação de entendimento imediato e de resolução, o que pode ser reconfortante em um mundo cada vez mais complexo e incerto. Entretanto, esse conforto é ilusório, pois a profundidade necessária para uma verdadeira compreensão das questões abordadas é frequentemente sacrificada. Em suas obras, como "Como aprendi a pensar" (Pondé, 2019) e"A era do niilismo" (Pondé, 2021), o filósofo aborda temas como o pessimismo contemporâneo e a decadência da civilização ocidental com uma abordagem que muitas vezes ignora nuances e variáveis contextuais importantes. Essa simplificação pode levar a conclusões que não refletem a realidade multifacetada e que, ao invés de esclarecer, podem obscurecer a verdadeira natureza dos problemas discutidos. ( 2024, p. 145). Ballerini (2018) e Bezerra (2024) convergem ao criticar Pondé por recorrer a generalizações pseudointelectuais que aparentam erudição, mas carecem de profundidade. Ambos destacam sua tendência a reduzir debates complexos a frases de efeito, revelando moralismo e viés ideológico. Ressaltam ainda que privilegia a retórica midiática em detrimento do rigor filosófico, orientando sua obra mais à popularização e visibilidade do que à reflexão sistemática.
3. Críticas acadêmicas e controvérsias públicas Paulo Ghiraldelli, em diversos artigos publicados entre 2021 e 2023, acusa Pondé de distorcer conceitos de pensadores como Byung-Chul Han e de adotar posturas ideológicas reacionárias, chegando a compará-lo a movimentos autoritários (O neonazismo do Pondé, 2021). Pondé é acusado por Ghiraldelli (2023) de realizar uma leitura equivocada de Byung-Chul Han, simplificando conceitos complexos em slogans de viés conservador. O filósofo sul-coreano, segundo o autor, é transformado por Pondé em frases de efeito que perdem densidade crítica. Tal postura, ao invés de dialogar seriamente com Han, reduz suas ideias a retórica midiática. O resultado é o empobrecimento do debate filosófico contemporâneo. Para Ghiraldelli, trata-se de mais um exemplo da superficialidade recorrente em Pondé. Embora exagerada em termos retóricos, a crítica expõe a tendência de Pondé em simplificar ideias complexas para sustentar narrativas conservadoras. Ghiraldelli (2021) crítica Pondé por adotar posturas ideológicas que, segundo o autor, flertam com valores autoritários e conservadores extremos. Pondé fala de livros que nem sempre lê. Usa algumas linhas dos livros para repetir uma de suas ideias já batidas: não se pode ter utopias, e se as temos, somos doentes ou pessoas más. Querer construir um mundo melhor é proibido. Pondé odeia revolucionários e utopistas. Até mesmo reformistas ele não suporta. O mundo não pode ser melhor por uma razão simples: ele teme que se mais pessoas forem felizes, ele não suportará viver. Ele teme, também, que se houver mais igualdade no mundo, os seus privilégios de rico talvez tenham de ser um pouco contidos. Desse modo, ele retoma em um artigo último uma tese batida, que ele vem repetindo há muito tempo (que falta de assunto e que falta de criatividade!), e que encontrei em livros brasileiros dos anos trinta feitos por autores integralistas ou autores que se diziam adeptos do nazismo. Eis a tese: as pessoas que querem melhorar o mundo são, na verdade, pessoas que querem “salvar o mundo”, e tais pessoas não percebem o quão grandiosa é impossível é tal coisa, e por isso deveriam ser vistas como proprietárias de uma psicologia problemática. (GHIRALDELLI, 2021).
Afirma que o filósofo recorre a simplificações e estereótipos para reforçar suas análises sociais. O texto denuncia o uso de generalizações que transmitem uma falsa aparência de profundidade intelectual. Para Ghiraldelli, essa estratégia contribui para a difusão de discursos polêmicos sem base conceitual sólida. Assim, a obra de Pondé seria marcada por superficialidade e retórica provocativa, em vez de consistência filosófica. As análises de Ghiraldelli em 2021 e 2022 convergem ao mostrar que Pondé adota estratégias de pensamento simplificadas e ideologicamente carregadas. Ambos os textos destacam a tendência do filósofo de privilegiar retórica provocativa em detrimento da análise conceitual rigorosa. Dessa forma, evidencia-se um padrão consistente de superficialidade em sua obra. Ghiraldelli (2022) argumenta que Pondé demonstra padrões de pensamento rígidos e reducionistas, comparáveis a ideologias autoritárias, ao interpretar questões sociais e políticas. O autor critica a tendência de Pondé de transformar problemas complexos em fórmulas simplistas, privilegiando retórica provocativa em vez de análise aprofundada. Segundo Ghiraldelli, essa postura evidencia um viés ideológico que distorce conceitos filosóficos e sociopolíticos. Mas há no Brasil o neostalinismo e o neofascismo que pensam diferente de tudo isso. Para eles, nem Kant ou Hume servem. O que se deve fazer é a defesa da ideia arcaica que envolve ainda o conceito de natureza humana. Nesse caso, a natureza humana é má, e ela deve se realizar na guerra. Segundo essa gente, qualquer jornalista que mostre o sofrimento humano está apenas sendo usado pelos homens de poder para ganhar a guerra das narrativas. Haveria um sentimentalismo de classe média sendo manipulado, e com isso, na atual guerra, a Ucrânia estaria vencendo no Instagram a guerra das narrativas. Para esse tipo de pessoa, com o nome de Luiz Felipe Pondé (artigo na Folha de 13/03/2022), o jornalista deveria se calar, não fotografar nada, apenas vir tomar uma cerveja com ele para comemorarem a maldade humana. Pondé quer ser um adorador da insensibilidade com capa de filósofo, mas acaba, ao escrever esse tipo de artigo, sendo apenas uma amostra de algum tipo de patologia que, é provável, exista no DSM da American Psychiatric Assiciation. A máscara de liberal conservador caiu, ele vestiu a máscara do neostalinismo dos adeptos de Putin, que culpam os Estados Unidos e a Otan por uma guerra em que o invasor é só a Rússia. (GHIRALDELLI, 2021). O artigo enfatiza a superficialidade de suas interpretações e a incapacidade de engajamento crítico consistente. Dessa forma, Pondé seria mais um formador de opinião midiático do que um filósofo sistemático. Ghiraldelli conclui que Pondé se posiciona mais como formador de opinião midiático do que como filósofo sistemático. Sua produção prioriza o impacto e a polêmica sobre a profundidade crítica. Assim, a relevância de Pondé reside na visibilidade cultural, não na densidade filosófica. As análises de Ghiraldelli (2022) e Bezerra (2024) convergem ao evidenciar que Pondé privilegia retórica e impacto midiático sobre profundidade conceitual. Ambos destacam sua tendência a simplificar problemas complexos, utilizando generalizações que aparentam erudição, mas carecem de rigor. Essa convergência reforça a percepção de um padrão consistente de superficialidade em sua produção filosófica.
Os trabalhos como os de J. R. da Silva Bezerra (2024) reforçam a percepção de que Pondé atua mais como colunista opinativo do que como filósofo sistemático. Bezerra (2024) crítica Pondé por sua tendência a reduzir debates complexos a opiniões simplistas e frases de efeito. O autor identifica uma estratégia recorrente de generalizações pseudo intelectuais que aparentam erudição, mas carecem de profundidade conceitual. Destaca ainda que Pondé privilegia a retórica midiática em detrimento do rigor filosófico. Segundo Bezerra, essa postura compromete a consistência argumentativa e a relevância acadêmica de suas obras. Assim, a obra do filósofo seria mais voltada à popularização do que à reflexão sistemática. Pondé se configura mais como formador de opinião e colunista opinativo do que como filósofo sistemático. Sua obra busca a popularização de ideias em detrimento do rigor crítico. Consequentemente, a relevância de Pondé está na visibilidade cultural, não na densidade acadêmica ou filosófica. Sua popularidade deriva da comunicação direta com inquietações sociais, mas o custo é a perda de densidade conceitual, suas metáforas moralistas reacionárias de um anti progressismo . A Popularidade versus profundidade filosófica: A obra de Pondé evidencia uma moral ultraconservadora que se sustenta mais na retórica provocativa e na visibilidade midiática do que na consistência filosófica. Suas generalizações simplificam problemas complexos, transformando debates éticos em slogans de efeito e banalizando a reflexão crítica sobre a condição humana. A crítica recorrente à superficialidade de Pondé não elimina sua relevância cultural. Pelo contrário, seu êxito demonstra como o espaço público brasileiro valoriza intelectuais que conciliam erudição seletiva com frases de efeito. Sua trajetória mostra a tensão entre o filósofo acadêmico e o intelectual midiático, em que a segunda função tende a se sobrepor à primeira.
3.1 A Falsificação da realidade Um "pobre de direita" chamado Luiz Felipe Pondé, sempre à procura de um defeito na esquerda! Um reacionário ressentido, que usa a imagem de filósofo para julgar os progressistas com um olhar negativo — para não dizer de ‘dedo podre’. Jovens cheios de causas para mudar o mundo fogem da obrigação de arrumar o quarto. Luiz Felipe Pondé. Essa frase de Luiz Felipe Pondé segue a linha irônica e provocativa que ele costuma usar em suas crônicas e comentários. A ideia central é apontar uma contradição: muitos jovens se engajam em discursos grandiosos sobre mudar o mundo, lutar por justiça social ou transformar a política, mas ao mesmo tempo não assumem responsabilidades básicas do cotidiano, como arrumar o quarto ou cumprir obrigações domésticas. É uma crítica que mistura humor ácido e conservadorismo prático, típica de Pondé: antes de querer transformar o mundo, seria preciso começar pelas pequenas responsabilidades pessoais. O Mestre em Sociologia Política Wilson Guilherme Lobe Junior pergunta: Qual a fonte? Que pesquisa afirma que os jovens de hoje fogem de suas obrigações em casa mais que as gerações anteriores? Não localizei estudos que observem declínio no cumprimento de tarefas domésticas entre jovens comparado com gerações anteriores, medido empiricamente, que o afirmam como fato consolidado. Muitos dados apontam para mudanças: mais igualdade de gênero, divisão diferente de responsabilidades, menores expectativas de tarefas rotineiras, etc., mas não necessariamente que jovens “fujam” das tarefas. Também não achei nenhum registro acadêmico ou reportagem bem documentada em que Luiz Pondé forneça fonte empírica para essa afirmação.
4 Conclusão A análise da obra e da atuação de Luiz Felipe Pondé revela que sua projeção pública está marcada por superficialidade filosófica, retórica simplificada e uso instrumental de referências conceituais. Embora seus primeiros livros mostram maior proximidade com a tradição filosófica, sua produção mais recente privilegia o impacto midiático. As críticas de Ballerini, Bezerra e Ghiraldelli convergem ao apontar a inconsistência metodológica e a tendência de reduzir problemas complexos a generalizações. Contudo, a popularidade de Pondé deve ser entendida como sintoma da sociedade contemporânea, que busca vozes rápidas, provocativas e acessíveis em detrimento da densidade analítica. Assim, Pondé se consolida como intelectual relevante, mas não pela profundidade de seu pensamento, e sim pela sua habilidade em transformar a filosofia em produto midiático.
<5 Referências BALLERINI, Franthiesco. “Generalizações pseudointelectuais: o ‘mal de Pondé’.” Observatório da Imprensa, 24 jan. 2018. BEZERRA, J. R. da Silva. “O MAL DO PENSADOR PONDÉ.” Revista Owl, 2024. CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Resenha: Do pensamento no deserto: ensaios de filosofia, teologia e literatura, de Luiz Felipe Pondé. Revista Brasileira de História das Religiões — RBHR/Anpuh. Disponível em: periódico UEM (consultado em 01 out. 2025). CORDEIRO, Ana Lúcia; WEBLER, Paulo Roberto Cardinelli. Entrevista com Luiz Felipe Pondé. Revista Sacrilegens, Universidade Federal de Juiz de Fora, v. 3, n. 1, 2006. DOLCE MORUMBI. Luiz Felipe Pondé desafia em novo livro formadores de opinião... (resenha / divulgação), 04 jun. 2025. GHIRALDELLI, Paulo. O neonazismo do Pondé. Artigo publicado em 25 jul. 2021. GHIRALDELLI, Paulo. O neostalinista da Folha de S. Paulo: o caso patológico Luiz Felipe Pondé. Artigo publicado em 13 mar. 2022. GHIRALDELLI, Paulo. Pondé lê errado Byung-Chul Han! Artigo publicado em 13 ago. 2023. MULTI PALESTRAS. Luiz Felipe Pondé — perfil e avaliação. Disponível em: Multi Palestras (consultado em 01 out. 2025). PONDÉ, Luiz Felipe. O homem insuficiente: comentários de antropologia pascaliana. São Paulo: EDUSP, 2001. PONDÉ, Luiz Felipe. Conhecimento na desgraça: ensaio de epistemologia pascaliana. São Paulo: EDUSP, 2004. PONDÉ, Luiz Felipe. Do pensamento no deserto: ensaios de filosofia, teologia e literatura. São Paulo: EDUSP, 2009. PONDÉ, Luiz Felipe. Contra um mundo melhor: ensaios do afeto. São Paulo: Editora Record, 2010. PONDÉ, Luiz Felipe. Filosofia para corajosos: pense com a própria cabeça. São Paulo: Planeta, 2016. PONDÉ, Luiz Felipe. (In)felicidade para corajosos. São Paulo: Planeta, 2021. PONDÉ, Luiz Felipe. A hegemonia do ridículo. Gazeta do Povo, 7 jan. 2018.